escutei passos surdos indo em direção ao quarto vazio de quem não vai voltar, onde não entrava há 2 anos. quando parei na porta a vi ali parada e muda. nó na garganta. a luz que entrava pela janela lateral deixava seus olhos um tom mais claros. lágrimas. a minha vontade era segurar aquelas mãos. continuei parada. todas aquelas coisas espalhadas, um pouco mais organizadas do que haviam sido deixadas. pensei em puxá-la dali e trancar a porta. "pra quê entrar aí de novo?" cheguei a desejar o silencio, como sempre fiz.. sem me olhar, cruzou os braços e, com a voz engasgada, senti que ela precisava me dizer algo:
"não vai passar.. o tempo vem e vai e dá a impressão de que as dores e lembranças vão se apagando, só que não.. por mais que a gente tente, elas continuar ali, como uma pedra que a gente coloca no bolso e carrega pra todo lado.. daí a vida continua e, um dia, por descuido, você coloca a mão no bolso e pensa: "nossa, continua aqui, a pedra".. mas no fundo é bom saber que ela continua ali, pois ela é a única coisa que restou".
tranquei a porta e nos servi um café.
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