eu quis tanto você, mas acima de tudo, eu quis sua poesia. eu quis sua mente, seu corpo, suas palavras roucas, o toque da sua pele. eu quis o seu mistério, seu sorriso rasgado, seu quarto bagunçado, suas roupas no chão. eu quis aquele amor dos livros, a liberdade de escrever o que se sente, eu quis a incerteza, a embriaguez, a companhia em dias de chuva, quis seu colchão na sala, sua caligrafia torta, suas fotos atrás da porta, sua coleção de rimas, seus olhos. quis inclusive seus amores antigos, já meio que esquecidos, mas sempre grandiosos. eu quis o seu abraço, seu cansaço, seu cigarro, sua obsessão. quis sua alegria, sua sintonia, sua simplicidade, sua energia. eu quis tudo. quis viver com você, morrer sem você, te quis muito perto e muito longe também. eu quis prever o que aconteceria e, achando que estivesse prevendo alguma coisa, mal sabia que já estava vivendo o que estava prestes a prever. eu tive a ironia - não sua, do destino - de cruzar com você de novo e voltar a querer tudo que eu quisera. e então eu quis correr o risco de querer ainda mais o que eu já queria. eu quis inclusive a sua dúvida, seu medo, seu desespero, seu desapego disfarçado, seu avesso. e eu passei tanto tempo querendo todas essas coisas sem poder de fato tê-las, que hoje me olho sem elas e me reconheço em mim. e depois de tanto tempo sem essas coisas que nunca tive, olho pra trás e vejo que continuo querendo as mesmas coisas, exceto uma: não quero mais você.